quarta-feira, 30 de julho de 2008

(2) Encontramos na bibliografia espírita numerosos casos dessa espécie, tendo alguns conseguido infiltrar-se em respeitáveis sectores da divulgação doutrinária, ocasionando graves prejuízos à aceitação do Espiritismo por pessoas sensatas e ilustradas. A fascinação foi tratada no n° 239 do cap. anterior. Como se vê ali, o Espírito mistificador paralisa a capacidade de julgamento do médium. O mesmo se dá com todas as pessoas que se deixam envolver. Essa a razão porque ideias absurdas e ridículas se espalham no meio doutrinário, defendidas por pessoas cultas, às vezes dedicadas ao movimento mas invigilantes e pouco atentas às advertências deste livro. (N. do T.)

Assim a questão da identidade, como dissemos, é mais ou menos indiferente quando se trata de instruções gerais, desde que os Espíritos mais elevados podem substituir-se mutuamente sem que isso acarrete consequências. Os Espíritos superiores constituem, por assim dizer, uma colectividade, cujas individualidades nos são, com poucas excepções, completamente desconhecidas. O que nos interessa não são as pessoas, mas o ensino. Ora, se o ensino é bom, pouco importa que venha de Pedro ou de Paulo. Devemos julgá-lo pela qualidade e não pelo nome. Se um vinho é mau, não é a etiqueta que o faz melhor. Mas já é diferente nas comunicações íntimas, porque então é o indivíduo, ou sua pessoa mesma que nos interessa. É pois com razão que, nessa circunstância, se procure assegurar de que o Espírito manifestante é realmente o que se deseja.


257. A identidade é muito mais fácil de constatar quando se trata de Espíritos contemporâneos, cujos hábitos e carácter são conhecidos. Porque são precisamente esses hábitos, de que ainda não tiveram tempo de se livrar, que nos permitem reconhecê-los. E digamos logo que são eles um dos sinais mais certos de identidade.(3)
O Espírito pode, sem dúvida, dar suas provas através das perguntas que lhe fazem, mas isso quando lhe convém. Em geral o pedido nesse sentido o magoa, pelo que devemos evitar de fazê-lo. Deixando o corpo o Espírito não se despoja da sua susceptibilidade. Toda pergunta para pô-lo à prova o aborrece.
Há perguntas que ninguém lhe faria em vida, com medo de faltar às conveniências. Porque tratá-lo com menos consideração após a morte? Se um homem se apresenta num salão declinando o seu nome, irá alguém lhe pedir documentos à queima-roupa, sob o pretexto de que há impostores? Esse homem teria o direito de lembrar ao interrogante as regras de civilidade. É o que fazem os Espíritos que não respondem ou que se retiram.
Tomemos um exemplo, para comparação. Suponhamos que o astrónomo Arago, quando vivo, se apresentasse numa casa em que não o conheciam e fosse recebido assim: "Dizeis que sois Arago, mas como não vos conhecemos, desejamos que o proveis respondendo às nossas perguntas: resolvei este problema de astronomia; dai-nos o vosso nome, prenome e os de vossos filhos; dizei o que fazeis em tal dia, a tal hora etc." O que ele responderia? Pois bem, como Espírito fará o que faria quando vivo, e os outros Espíritos farão o mesmo.


258. Recusando-se a responder perguntas pueris e absurdas que não lhes fariam quando vivos, os Espíritos, entretanto, frequentemente dão provas espontâneas e irrecusáveis de sua identidade. Isso pela revelação do próprio carácter através da linguagem, pelo emprego de expressões que lhes eram familiares, pela referência a alguns factos significativos e de particularidades de sua vida, às vezes desconhecidas dos assistentes, cuja veracidade se pode verificar. As provas de identidade ressaltam ainda de muitas circunstâncias imprevistas que nem sempre surgem no primeiro momento mas na sequência das manifestações. É conveniente, pois, esperá-las ao invés de as provocar, observando-se cuidadosamente todas as que possam provir da natureza das comunicações. (Ver o caso relatado no nº 70)


259. Um meio às vezes usado com sucesso para assegurar a identidade, quando o Espírito se torna suspeito, é o de fazê-lo afirmar em nome de Deus todo-poderoso que é ele mesmo. Acontece muitas vezes que o usurpador recua diante do sacrilégio. Depois de haver começado a escrever: Afirmo em nome de... pára e risca encolerizado traços sem significação ou quebra o lápis. Sendo mais hipócrita, contorna o problema através de uma omissão, escrevendo, por exemplo: Eu vos certifico que digo a verdade; ou ainda: Atesto, em nome de Deus, que sou eu mesmo quem vos falo etc.
Mas há os que não são assim escrupulosos e juram por tudo o que se quiser. Um deles se comunicava com um médium dizendo-se o próprio Deus, e o médium, muito honrado com tão elevada graça, não hesitou em acreditar. Evocado por nós, não ousou sustentar a impostura e disse: Eu não sou Deus, mas sou seu filho. -- Então sois Jesus? Isso não é provável porque Jesus está muito elevado para empregar subterfúgios. Ousais afirmar, em nome de Deus, que és o Cristo? — Eu não disse que sou Jesus, disse que sou filho de Deus porque sou uma das suas criaturas.
Deve-se concluir disso que a recusa de um Espírito em afirmar a sua identidade em nome de Deus é sempre uma prova de que usa de impostura, mas que a afirmação nos dá apenas a presunção e não a prova da identidade.


260. Pode-se também colocar entre as provas de identidade a semelhança de caligrafia e de assinatura. Mas além de não ser dado a todos os médiuns obter esse resultado, ele nem sempre representa uma garantia suficiente. Há falsários no mundo dos Espíritos, como no nosso. Essa semelhança não representa mais do que uma presunção de identidade, que só adquire valor dentro das circunstâncias em que se produziu.
O mesmo se dá com todos os sinais materiais que alguns dão como talismãs inimitáveis pelos Espíritos mentirosos. Para aqueles que ousam perjurar em nome de Deus ou imitar uma assinatura, nenhum signo material pode representar obstáculo maior. A melhor de todas as provas de identidade está na linguagem e nas circunstâncias imprevistas.


261. Certamente se dirá que se um Espírito pode imitar uma assinatura, pode também imitar a linguagem. É verdade. Temos visto os que tomam afrontosamente o nome do Cristo e para melhor enganar imitam o estilo evangélico excedendo-se nas expressões mais conhecidas: em verdade, em verdade vos digo. Mas quando se estuda o texto sem se deixar influenciar, perscrutando o fundo dos pensamentos e o alcance das expressões, vendo-se ao lado das belas máximas de caridade recomendações pueris e ridículas, seria preciso que se estivesse fascinado para se enganar. Sim, certos aspectos formais da linguagem podem ser imitados, mas não o pensamento. A ignorância jamais imitará o verdadeiro saber, como jamais o vício imitará a verdadeira virtude. Sempre aparecerá de algum lado a ponta da orelha. É então que o médium e o evocador devem usar de toda a sua perspicácia e raciocínio para separar a verdade da mentira. Devem persuadir-se de que os Espíritos perversos são capazes de todas as trapaças e de que, quanto mais elevado for o nome usado, mais desconfiança deve provocar. Quantos médiuns têm recebido comunicações apócrifas assinadas por Jesus, Maria ou algum santo venerado!(4)
(3) A identificação dos Espíritos é feita através da personalidade do falecido. Dados diversos podem ajudar essa identificação, mas são o seu carácter, os seus modos, os seus hábitos, todo esse conjunto pessoal que nos prova a sua presença. Exigir a identificação material é absurdo. Mas quando essa identificação é possível, como pelos sinais digitais, pela forma do rosto ou das mãos impressas no gesso, ou mesmo pela fotografia ou pela materialização do Espírito, ainda assim os negadores sistemáticos não a aceitam. Kardec tem razão ao acentuar a importância da identificação pela personalidade. (N. do T.)
(4) Hoje há também muito abuso com o próprio nome de Kardec. O remédio está bem indicado nesse item 261, que deve ser lido com atenção e ponderado pelos que querem pegar "a ponta da orelha". (N. do T.)


Referência: O livro dos médiuns

Quinta-feira, 19 de Julho de 2007

Como distinguir os espíritos bons e maus



Como Distinguir os Espíritos Bons e Maus


262. Se a perfeita identificação dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão secundária, sem importância, não se dá o mesmo com a distinção entre os Espíritos bons e maus. Sua individualidade pode ser-nos indiferente, mas a sua qualidade jamais. Em todas as comunicações instrutivas é sobre esse ponto que devemos concentrar nossa atenção, pois só ele pode nos dar a medida da confiança que podemos ter no Espírito manifestante, seja qual for o nome com que se apresente. O Espírito que se manifesta é bom ou mau? A que grau da escala espírita pertence? Essa a questão capital. (Ver Escala Espírita no item 100 de O Livro dos Espíritos)


263. Julgamos os Espíritos, já o dissemos, pela linguagem, como julgamos os homens. Suponhamos que um homem receba vinte cartas de pessoas que não conhece. Pelo estilo, pelas ideias, por numerosos indícios julgará quais são as instruídas e quais as ignorantes, educadas ou sem educação, profundas, frívolas, orgulhosas, sérias, levianas, sentimentais etc. Acontece o mesmo com os Espíritos. Devem considerá-los como correspondentes que nunca vimos e perguntar o que pensaríamos da cultura e do carácter de um homem que dissesse ou escrevesse aquelas coisas. Podemos tomar como regra invariável e sem excepção que a linguagem dos Espíritos corresponde sempre ao seu grau de elevação.


Os Espíritos realmente superiores não se limitam apenas a dizer boas coisas, mas as dizem em termos que excluem absolutamente qualquer trivialidade. Por melhores que sejam essas coisas, se forem manchadas por única expressão de baixeza temos um sinal indubitável de inferioridade. E com mais forte razão se o conjunto da comunicação ferir as conveniências por sua grosseria. A linguagem revela sempre a sua origem, seja pelo pensamento ou pela forma. Assim, mesmo que um Espírito quisesse enganar-nos com a sua pretensa superioridade, bastaria conversarmos algum tempo com ele para o julgarmos.


264. A bondade e a afabilidade são também atributos essenciais dos Espíritos depurados. Eles não alimentam ódio nem para com os homens nem para com os demais Espíritos. Lamentam as fraquezas e criticam os erros, mas sempre com moderação, sem amarguras nem animosidades. Se admitirmos que os Espíritos verdadeiramente bons só podem querer o bem e dizer boas coisas, concluiremos que tudo o que, na linguagem dos Espíritos, denote falta de bondade e afabilidade não pode provir de um Espírito bom.


265. A inteligência está longe de ser um sinal seguro de superioridade, porque a inteligência e a moral nem sempre andam juntas. Um Espírito pode ser bom, afável e ter conhecimentos limitados, enquanto um Espírito inteligente e instruído pode ser moralmente bastante inferior.(5)
Geralmente se pensa que interrogando o Espírito de um homem que foi sábio na Terra, em certa especialidade, obtém-se a verdade com mais segurança. Isso é lógico, e não obstante nem sempre é certo. A experiência demonstra que os sábios, tanto quanto os outros homens, sobretudo os que deixaram a Terra há pouco, estão ainda sob o domínio dos preconceitos da vida corpórea, não se livrando imediatamente do espírito de sistema. Pode assim acontecer que, influenciados pelas ideias que alimentaram em vida e que lhes deram a glória, vejam com menos clareza do que supomos. Não damos este princípio como regra. Longe disso. Advertimos apenas que isso acontece e que, por conseguinte, sua sabedoria humana nem sempre é uma garantia de sua infalibilidade como Espíritos.
(5) Atenção para a advertência final de que isso não constitui regra. Certas pessoas entendem que só devemos crer nos Espíritos ignorantes ou que se fazem passar por tal. Isso é ir de um extremo ao outro. Os Espíritos realmente elevados são inteligentes e bons, realizaram ao mesmo tempo a evolução intelectual e moral, como se depreende da própria regra de identificação de sua elevação pela linguagem. (N. do T.)

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