quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ao se combinar com esoterismo europeu a umbanda tomou o seu caráter particular, para começar, afastou-se da forma original do culto dos Orixás do êxtase das danças rituais, e aproximou-se da pratica da mediunidade exercida para fins de caridade, típica do espiritismo. Na tentativa de legitimar sua religião, fazendo com que ela deixasse de se um “caso de policia”, os umbandistas buscaram transformá-la assim uma religião de caráter universal, que, alem de africanos e ameríndios, também tivesse um espaço garantido para todos os povos da Europa, da Ásia e das Américas. Foi elaborado um sistema hierárquico extremamente complexo, que tem no seu topo sete santos (orixás sincretizados com algumas das figuras mais importantes do catolicismo no Brasil) que são chefes de linhas, e a cada um dos quais estão subordinadas legiões e falanges de espíritos protetores: santos, crianças, almas, caboclos, sábios, etc.

A umbanda por um lado, preservou a concepção Kardecista do Carma, da evolução espiritual e da comunicação com os espíritos e, por outro, mostrou-se “aberta” às formas populares de culto africano. Ao incorporar os elementos africanos foi necessário purificá-las, retirando tudo aquilo que era considerado muito bárbaro e por isso estigmatizado: o sacrifício de animais, as danças frenéticas, as bebidas alcoólicas, o fumo da pólvora. Quando se fazia necessário o uso desses elementos, explicava-os “cientificamente”, segundo o discurso racional do Kardecismo.

Segundo Renato Ortiz, a umbanda se desenvolveu paralelamente em diferentes estados sem que exista, pelo menos de maneira comprovada, uma relação de influências entre os diversos terreiros. Em meados dos anos 20, existe em Niterói a tenda de Zélio de Moraes, no Rio de Janeiro a de Benjamim Figueiredo, em Porto Alegre a de Otacílio Charão.
No final da década de 1930 e inicio da de 1940, já é possível observar a existência de um movimento umbandista portador de uma ideologia conscientemente estabelecida à qual os terreiros, com maior ou menor fidelidade, se identificavam.
O período do Estado Novo (1937 – 1945) foi contra o desenvolvimento e prática de cultos afro-brasileiros, mas por outro lado o enaltecimento da cultura popular e dos valores negros, patrocinados pelas elites intelectuais e artísticas abriram muitas brechas para a continuidade das práticas religiosas afro-brasileiras.
Segundo Ortiz, a umbanda desse período, ao minimizar as influencias africanas em suas praticas e sendo liderada por setores médios da população, organizou-se tendo como ponto de apoio essas idéias. Ao mesmo tempo que “embranquecia” os valores religiosos da macumba, considerados atrasados ou primitivos, “empretecia” os valores do Kardecismo, considerados europeus demais distantes de nossa realidade. Ao identificar-se como os cultos afro, os umbandistas propunham uma religião brasileira, nascida aqui. Essa religião refletia os anseios de reconhecimento dos segmentos marginalizados (negro, índios), prostitutas, estivadores – pobres em geral) e as possibilidades de acomodação desses anseios numa sociedade urbana e industrial, por divisões (de classe, trabalho, sexual, etc.), discriminações e desigualdades, e onde os valores da cultura dominante branca continuavam a ser os mais influentes.
Segundo Vargner Silva, a organização dos terreiros umbandista a partir de um quadro burocrático foi um dos primeiros sinais desses anseios de reconhecimento. A umbanda se inspirou nas associações civis (cartoriais) para estabelecer sua organização sócio-religiosa. O terreiro passou a funcionar segundo um estatuto que estabelecia os cargos, as funções dos membros, os horários de funcionamento e de atendimento ao publico, as formas de ingresso e os direitos e deveres de cada sócio.
A hierarquia religiosa seguiu a organização burocrática onde o líder espiritual (pai ou mãe-de-santo) é auxiliado por assessores (pai ou mãe-pequena, cambonos e Ogans, e pelo “corpo de médiuns”, os filhos de santo ou filhos de fé).
Com a criação da primeira federação de umbanda, união espírita da umbanda do Brasil, articulou-se o Primeiro Congresso do Espiritismo da Umbanda, ocorrido em 1941, no Rio de Janeiro, onde as principais diretrizes da religião foram traçadas, dentre elas, fornecer assistência jurídica aos seus filiados contra a perseguição policial.
As várias tendências doutrinárias provocam as primeiras dissidências do movimento umbandista. A partir de 1950 setores dessa religião provenientes dos extratos mais baixos da população, geralmente negros e mulatos, começaram a contestar o distanciamento da umbanda das praticas africanas. Á “umbanda branca” opôs-se a tendência da recuperação dos valores africanos presentes na religiosidade popular.
No segundo Congresso, ocorrido no Rio de Janeiro em 1961 ocorreu o crescimento da religião com representantes de dez estados brasileiro e com a presença de políticos municipais e estaduais.
No Terceiro Congresso de Umbanda, realizado em 1973, essa religião afirmou-se definitivamente como uma das que mais crescem em força expressiva no campo das atividades assistenciais.
Como resultado do processo de legitimação social, a umbanda aos poucos foi adquirindo permissão legal e apoio institucional dos órgãos governamentais para a realização de suas festas em espaços públicos.
No Rio de Janeiro, 31 de dezembro, por ser uma data na qual milhares de umbandistas vão às praias para levar presentes (perfumes, flores, colares) a Iemanjá, foi proclamando, em 1967, dia dos Umbandistas.
Segundo Eneida Gaspar, dois fatos se destacam como precursores da umbanda, um deles foi o costume dos escravos se reunirem após o horário de trabalho para dançarem e cantarem suas musicas tradicionais; essa prática, ao se difundir como forma de culto religioso em terreiros e áreas ermas ficou conhecida pelas autoridades pelo nome de “Macumba”, termo que passou a ter um sentindo pejorativo de magia negra e orgia. O medo das macumbas era forte entre os senhores e autoridade pois acreditavam que a religião africana praticava feitiços destinados a vingar os escravos e destruir seus opressores. Por isso, essa religião foi violentamente reprimida pela policia, começando a libertar-se somente a partir do final do século XIX quando, ao ser lentamente absorvida pelas classes médias urbanas, foi se afastando dos aspectos ameaçadores e adaptada à concepção de mundo do espiritismo racionalista (Kardecismo) recém-posto em moda na Europa. A partir dessa época é que a religião passou a adotar o nome de Umbanda, derivado de termo banto “nbanda”, que designava o sacerdote da religião.
Outro fator importante para a formação da umbanda foi criação, desde o século XVIII, de irmandades religiosas católicas destinadas a dar assistência aos escravos. O próprio clero católico estimulou a superposição entre os deuses africanos e os santos católicos, já que seria importante, para a aceitação da nova crença, que os africanos reconhecessem as semelhanças entre os dois grupos de divindades. Começando com Jesus Cirsto e seu oposto Satanás, com a Virgem Maria e os santos protetores das irmandades, foi-se formando aos pouco um panteon alternativo extraído do catolicismo popular e constituído, de inicio, pelas figuras que atendiam as necessidades mais urgentes dos escravos. Desta forma, São Jorge era o guerreiro necessário para apóia-los em suas lutas e São Lazaro intercedia pela doença, assim como São Pedro exercia sua justiça, e Cosme e Damião protegiam as crianças.
Logo a seguir, o depoimento da umbandista, a mãe-de-santo Maria Helena filha de Oxumaré, do centro espírita Cantinho do Boiadeiro:
A umbanda é uma religião muito boa, porque tudo aquilo que fala de Deus e os orixás é muito importante. As minhas vitórias foram adquirida através da umbanda.
A partir dos sete anos apresentava desmaios, tonteiras, dormências, ficava apática, tinha sintomas que os médicos não conseguia diagnosticar. Quando visitava um centro espírita passava mal. Com nove anos foi incorporada por um caboclo (Ubirajara) a partir de então tomei consciência que tinha o dom da mediunidade, percebi as vibrações dos orixás. A umbanda veio de raiz, herança das meus ancestrais (avós paternos).
O sincretismo está presente no universo religioso dos afro-brasileiro e em se tratando especificamente da umbanda é muito forte a influência africana, indígena e européia.
Se por um lado esta união foi boa para os escravos, por outro lado fez com que se perdesse a real essência do culto aos Orisás, tal como na sua origem “Raiz”, pois os negros africanos (Um pequeno grupo) misturando sua crença com a dos negros brasileiros e índios criaram. Passaram a cultuar "Eguns": “Espíritos de pessoas que viveram, morreram e que retornam por conta de sua dívida deixada em vida passada "Encont, esses mesmo encontram-se sempre em fase de evolução espiritual, diferente de Orisàs que são espíritos deificados e divinizados, e assim sendo não necessitam de evolução. Esses mesmos Eguns passaram a ser seus mentores espirituais, como conselheiros e amigos. Entretanto vamos analisar alguns aspectos.
O fato de um espírito ser mais evoluído que nós, necessariamente não significa que este mesmo quando vivo "Em sua outra vida que antecede esta", cultuava aos Orixás, ou ainda que era sabedor dos mistérios e segredos de Ifá.
Pode ter sido o espírito de algum escravo negro que não cultuava Orixá, ou Índio, e dependendo da época em que viveu, já cultuava a própria Umbanda. Assim sendo temos uma primeira explicação do porque na Umbanda não se faz santo, e sim Coroa ou : Ifarí ( palavra de origem Bantú).
Na própria tradição Nago-Yorubá, se diz “Uma alma não pode ocupar mais do que um corpo, entretanto todas as lembranças da vida passada serão esquecidas e apagadas ao ocupar outro corpo”, ainda temos outra , metáfora africana: “Ninguém pode dar aquilo que não recebeu”.
Analisando esses dois ensinamentos concluímos que: Para uma pessoa fazer qualquer coisa dentro do culto 'Orixá" para outrem, é necessário que antes esta mesma tenha recebido aquilo, por exemplo: Um Oborí (contração das palavras Obó Ori : adoração a cabeça e ou dar de comer a cabeça, o primeiro ato em uma Iniciação) o segundo ponto é, se a alma ocupa somente um corpo perdendo suas lembranças das vidas passadas está explicado o porque nós não nos recordamos do que e quem fomos anteriormente. Porém, acredito que já tenha acontecido isso com muitas pessoas. Quantas vezes você já esteve em um lugar, e imediatamente você olha e pensa: Engraçado eu nunca estive aqui mas este lugar não me é estranho, tenho certeza que já vi antes... Isso porque provávelmente por alguns instantes, a nossa mente se recorda de lapsos de momentos, por onde passamos em outra vida.
Dentro da tradição do culto aos Orixás só existem três maneiras de termos um contato com os mesmos, através dos Oráculos de Ifá“Orúnmílà – (Parte do criador, aquele que pode mudar o destino das pessoas), através da incorporação do mesmo ou através de Obí ( O primeiro oráculo a existir).
Esses oráculos têm o nome de “Opele Ifá” e são jogados por pessoas pré- determinadas para isso (Com caminho).
Existe todo um ritual de apresentação, e esta pessoa poderá ou não, ser aceita por Orúnmílà. Dentro da tradição o nome dado a esses sacerdotes de Ifá é de Babalawo (Pai do segredo), cargo ocupado somente por homens.
Mas Olorun em sua infinita misericórdia, diante do pedido de Oxum mais tarde autorizou que as mulheres pudessem ter alguma forma de ver o destino, o futuro das pessoas, e daí nasce o "Meredilogun Cauwri" (Os dezesseis búzios) sendo estes orientados pelo senhor que tudo sabe, e que é a mola da humanidade o porteiro da entrada do céu Ijelúe (título dado por Olorun à Exú).
Na tradição Yoruba, Exú é um dos primeiros e mais importantes Orixás, o que participou da criação, e nada têm haver com os nossos compadres e comadres de Umbanda: Tranca Rua, Mangueira, Veludo, Maria Padilha etc...
Nada se faz sem antes agradar Exú(Esu Orixá- Tradição Yoruba), este é o primeiro a receber todas as homenagens e honrarias e somente ele pode interceder em nosso destino.
Orunmilá não responde a quem não é apresentado a ele passando pelo ritual, “Orô" – ritual, e palavras de encantamento que são passadas de geração, para geração que são utilizadas antes do jogo. É como se fosse uma codificação, ao emitir essas palavras Orúnmílà, imediatamente identifica a pessoa e se dá inicio ao jogo”. Assim é na tradição yorubá e assim sempre será, isso é uma regra, e não há outra alternativa.
Não se têm contato com Orixá através de baralhos, tarô ou qualquer outra forma! Isso é uma maluquice que algumas pessoas andam dizendo por aí. De fato se vê alguma coisa nas cartas, mas não em relação a Orixá, as cartas seguem uma outra tradição que nada têm haver com Orixá, é a tradição Cigana, que cultua outros Deuses exemplo: Santa Sara de Kali.
Aqui estamos falando de Orixá!. Entretanto existe o primeiro Oráculo a ser criado no mundo , este sim de um poder ainda maior que os Búzios, é o “Obí – Semente de nós de cola, um dos componentes da Coca-Cola” que é uma semente sagrada. É o Obí quem dá a última palavra, quando uma pessoa é iniciada ou faz qualquer oferenda, costuma-se confirmar através do Obí, e está decidido!.
Para entenderem melhor, se um Baba joga os Cauwris (búzios), e naquele jogo por exemplo dá a regência de Yansan para aquela pessoa, a pessoa pode passar anos cultuando Yansan, comprar tudo para se iniciar para Yansan e tudo mais, porém se na hora de Raspar (Ritual de Iniciação do culto ao Orixá) o Obí dizer que é Ogun. Aquela pessoa será iniciada e consagrada à Ogun, e Yansan passa a ser um segundo santo o que chamam de carrego. Isso só se dá na hora de raspar e em nenhum outro momento.
Quem dá a palavra final é o Obí. Por este motivo, todo Babalorisa ou Iyalorisa ainda que não jogue Búzios, deve saber jogar o Obí, mesmo na Umbanda, pois é através dele que terá a resposta de que Orixá aquele filho será Coroado.
Este procedimento não pode ser feito por entidades "Guias de Umbanda", pois como vimos antes, este não têm contato com Orixá pelo fato de toda a preparação que um Babalorisa ou Iyalorisa passa.
Na Umbanda, acredita-se que os mentores espirituais podem opinar nessa questão, porém na casa do dirigente que for Iniciado, obviamente que este é quem irá fazer toda a consulta e ritualística.
Para os que seguem a tradição como ela é, consegue separar as orientações dos nossos queridos mentores de Umbanda

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