quarta-feira, 30 de julho de 2008

— O fluido universal é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som?
— Sim, com a diferença de que o som só pode ser ouvido num raio muito limitado, enquanto o pensamento atinge o infinito. O Espírito no espaço é como o viajante que, no meio de vasta planície, ouvindo subitamente o seu nome se dirige para o lado de onde o chamam.(12)
6. Sabemos que as distâncias nada são para os Espíritos, mas nos admiramos de ver que respondem, às vezes, tão prontamente ao chamado como se estivessem bem próximos.
— É que, às vezes realmente estão. Se a evocação foi premeditada, o Espírito recebeu o aviso com antecedência e frequentemente se encontra no lugar antes que o chamem.
7. Conforme as circunstâncias, o pensamento do evocador será ouvido com maior ou menor facilidade?
— Sem qualquer dúvida. O Espírito chamado com um pensamento de simpatia e benevolência é mais vivamente tocado. É como se reconhecesse uma voz amiga. Sem isso, acontece muitas vezes que a evocação não avança. O pensamento desferido pela evocação toca o Espírito, mas se é mal dirigido se perde no vácuo. Isso acontece também com os homens: se quem os chama não interessa ou lhes é antipático, eles podem ouvi-lo, mas na maioria das vezes não o atendem.

(12) A comunicação do pensamento à distância está hoje provada pelos próprios métodos das chamadas ciências positivas (ou materiais) graças às pesquisas e experiências parapsicológicas. Bastou um século de progresso científico para que este problema se tornasse mais acessível à compreensão dos homens. O pensamento não conhece limites no espaço e no tempo, o que dá plena validade científica a esse princípio espírita. (N. do T.)


8. O Espírito evocado se manifesta voluntariamente ou é constrangido a isso?
— Ele obedece à vontade de Deus, o que quer dizer à lei geral que rege o Universo. Não obstante, constrangido não é o termo certo, porque ele julga se é conveniente atender e ainda nisso dispõe do livre-arbítrio. O Espírito superior atende sempre que o chamam com uma finalidade útil. Só se recusa a responder a reuniões de pessoas pouco sérias e que tratam disso por divertimento.
9. O Espírito evocado pode negar-se a atender?
— Perfeitamente. Onde estaria, sem isso, o seu livre-arbítrio? Achais que todos os seres do Universo estão às vossas ordens? E vós mesmos, acaso vos considerais obrigados a responder a todos os que pronunciam o vosso nome? Mas quando assim o digo, refiro-me ao chamado do evocador. Porque um Espírito inferior pode ser constrangido, por um superior, a se manifestar.(13)
10. O evocador dispõe de algum meio para constranger o Espírito a atendê-lo?
— Nenhum, se o Espírito é igual ou superior a ele em moralidade, — digo em moralidade e não em inteligência, — porque então não tem nenhuma autoridade. Se for inferior, poderá fazê-lo para o seu próprio bem, porque então outros Espíritos o ajudarão. (Ver nº 279).


(13) O poder do Espírito superior se exerce em benefício do inferior, obrigando-o a se manifestar para o seu próprio bem. O livre-arbítrio é condicionado pela evolução. Quanto mais elevado o Espírito, maior a sua liberdade. É o mesmo que vemos na Terra: os criminosos estão sujeitos a restrições da liberdade que não devem atingir os homens de bem. Nas sessões de desobsessão os Espíritos inferiores são frequentemente obrigados a se manifestarem, para o seu próprio bem e em favor de suas vítimas. (N. do T.)
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11. Será inconveniente evocar Espíritos inferiores e será de temer que eles dominem o evocador?
— Eles só dominam os que se deixam dominar. Quem for assistido por Espíritos bons nada tem a temer, porque se impõe aos Espíritos inferiores e não estes a ele. Os médiuns quando sós, principalmente quando iniciantes, devem evitar essa espécie de evocações. (Ver nº 278)
12. Há algumas disposições especiais para as evocações?
— A disposição principal é a do recolhimento, quando se deseja a comunicação de Espíritos sérios. Com fé e o desejo do bem há maior capacidade para se evocar Espíritos superiores. Ao elevar a alma por alguns instantes de recolhimento, no momento da evocação, a gente se identifica com os Espíritos bons e os dispõe a se manifestarem.
13. A fé é necessária para as evocações?
— A fé em Deus, sim. Quanto ao mais, a fé se desenvolverá com o desejo do bem e a intenção de instruir-se.
14. Reunidos pela unidade de pensamentos e intenções os homens se tornam mais fortes para evocar os Espíritos?
— Quando todos se reúnem pela caridade e para o bem, conseguem grandes coisas. Nada é mais nocivo para o êxito das evocações do que a divergência de pensamentos.
15. É útil o hábito de formar corrente, dando-se as mãos por alguns minutos no começo das reuniões?
— A corrente é um meio material que não produz a união entre vós se ela não existir nos pensamentos. Mais eficaz que essas coisas é a união num pensamento comum, apelando cada qual para os Espíritos bons. Não sabeis o que se poderia obter numa reunião séria, da qual se houvesse afastado todo sentimento de orgulho e de personalismo, reinando um perfeito sentimento de mútua cordialidade.
16. É preferível fazer as evocações em dias e horas determinados?
— Sim, e se possível no mesmo local. Os Espíritos então comparecem mais à vontade. A vossa constância ajuda os Espíritos a virem comunicar- se convosco. Eles têm as suas ocupações, que não podem deixar de repente para vossa satisfação pessoal. Quando digo no mesmo local não me refiro a uma obrigação absoluta, pois os Espíritos vão a toda parte. Quero dizer que é preferível um local consagrado às reuniões, porque o recolhimento se torna mais perfeito.
17. Certos objectos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos, como pretendem algumas pessoas?
— Pergunta inútil, pois sabeis que a matéria não exerce nenhuma acção sobre os Espíritos. Ficai certos de que jamais um Espírito bom aconselha semelhantes absurdos. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza, só existe na imaginação das criaturas supersticiosas.
18. Que pensar dos Espíritos que marcam encontros em lugares lúgubres em horas inconvenientes?
— São Espíritos que se divertem com os que lhes dão ouvidos. É sempre inútil e frequentemente perigoso ceder a essas sugestões. Inútil, porque nada absolutamente se ganha além de ser mistificado; perigoso, não pelo mal que os Espíritos possam fazer, mas pela influência que isso pode exercer nos cérebros fracos.
19. Há dias e horas mais propícias para as evocações?
— Para os Espíritos isso é completamente indiferente, como tudo o que é material, e seria supersticioso acreditar na influência dos dias e das horas. Os momentos mais propícios são aqueles em que o evocador esteja menos absorvido pelas suas preocupações habituais, em que o seu corpo e o seu espírito estejam mais calmos.
20. A evocação é agradável ou penosa para os Espíritos? Eles atendem de boa vontade quando os chamamos?
— Isso depende do seu carácter e do motivo porque o chamam. Quando o objectivo é louvável e o meio é simpático, a evocação se torna agradável e mesmo atractiva. Os Espíritos se sentem sempre felizes com os testemunhos de afeição. Há os que consideram uma grande felicidade poder comunicar- se com os homens e sofrem com o esquecimento destes. Mas, como já disse, isso também depende do seu carácter. Entre os Espíritos existem também os misantropos que não gostam de ser incomodados, cujas respostas se ressentem do seu mau humor, sobretudo quando chamados por criaturas que lhes são indiferentes, pelas quais não se interessam. Um Espírito não tem, muitas vezes, nenhum motivo para atender o apelo de um desconhecido que lhe é indiferente e que age quase sempre movido pela curiosidade. Nesse caso, se ele atende é geralmente em rápidas passagens, a menos que exista um objectivo sério e instrutivo na evocação.


Observação - Vemos pessoas que só evocam seus parentes para fazer perguntas sobre as coisas mais vulgares da vida material. Por exemplo: um para saber se alugará ou venderá a sua casa; outro, para indagar do lucro que obterá com sua mercadoria, qual o lugar onde há dinheiro escondido, se tal negócio será ou não vantajoso. Nossos parentes de além-túmulo só se interessam por nós em razão da afeição que lhes conservamos. Se todos os nossos pensamentos se limitam a julgá-los feiticeiros, se só pensamos neles pedindo informações, não podem ter grande simpatia por nós e não devemos nos admirar de que nos demonstrem pouca benevolência.
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21. Há diferença entre os Espíritos bons e maus no tocante à solicitude com que atendem ao nosso chamado?
— Há, e muito grande. Os Espíritos maus só atendem de boa vontade quando esperam dominar e enganar; sentem viva contrariedade quando são forçados a se manifestar para confessar as sua faltas e procuram escapar, como o colegial que se chama para repreender. Podem ser constrangidos a manifestar-se por Espíritos superiores, como castigo e para instrução dos encarnados. A evocação é penosa para os Espíritos bons quando chamados inutilmente, por motivos fúteis. Então não atendem ou logo se retiram.
Pode-se dizer que em geral os Espíritos, sejam quais forem, não gostam de servir, como vós, de distracção para curiosos. Muitas vezes não tendes outro fim, ao evocar um Espírito, que o de ver o que ele vos dirá ou interrogá-lo sobre particularidades da sua vida que ele não se interessa por vos contar, pois não tem nenhum motivo para vos fazer de confidente. Pensais que vai se expor no banco dos réus para vos agradar? Desenganai-vos, pois o que ele não faria em vida, muito menos o fará como Espírito.
Observação - A experiência comprova que a evocação é sempre agradável para os Espíritos quando feita com um objectivo sério e útil. Os bons têm prazer em nos instruir. Os sofredores são aliviados com a simpatia que lhes demonstramos; os nossos conhecidos ficam satisfeitos com a nossa lembrança. Os Espíritos levianos gostam de ser evocados por pessoas frívolas, porque têm a oportunidade de se divertirem à sua custa; não se sentem bem na companhia de pessoas sérias.
22. Os Espíritos necessitam da evocação para se manifestarem?
— Não. Manifestam-se muito frequentemente sem ser chamados, o que prova que o fazem de boa vontade.
23. Quando um Espírito se manifesta por si mesmo podemos estar certos da sua identidade?
— De maneira alguma, pois os Espíritos mistificadores o fazem com frequência para melhor enganar.
24. Quando evocamos um Espírito pelo pensamento ele nos atende, mesmo que não haja manifestação pela escrita ou de outra maneira?
— A escrita é o meio material pelo qual o Espírito atesta a sua presença, mas é o pensamento que o atrai e não o acto de escrever.
25. Quando um Espírito inferior se manifesta podemos obrigá-lo a se retirar?
— Sim, não lhe dando ouvidos. Mas como quereis que se retire se vos divertis com as suas asneiras? Os Espíritos inferiores, como os tolos entre vós, se apegam aos que gostam de ouvi-los.
26. A evocação em nome de Deus é uma garantia contra a intromissão dos Espíritos maus?
— O nome de Deus não é um freio para todos os Espíritos perversos, mas segura muitos deles. Por esse meio sempre afastais alguns, e muitos mais afastareis se o pronunciardes do fundo do coração e não como fórmula banal.(14)
27. Poderíamos evocar nominalmente muitos Espíritos ao mesmo tempo?
— Não há para isso nenhuma dificuldade. Havendo três ou quatro mãos para escrever, três ou quatro Espíritos responderiam ao mesmo tempo. É o que acontece quando dispomos de muitos médiuns.
28. Quando muitos Espíritos são evocados de uma vez, com um médium só, qual o que responde?
— Um deles responde por todos e exprime o pensamento colectivo.
29. O mesmo Espírito poderia comunicar-se ao mesmo tempo, na mesma sessão, por dois médiuns diferentes?
— Tão facilmente como, entre vós, certos homens ditam muitas cartas de uma vez.
Observação - Vimos um Espírito responder ao mesmo tempo, por dois médiuns, às perguntas que lhe faziam, por um em francês e por outro em inglês, sendo idênticas as respostas quanto ao sentido, e algumas mesmo verdadeiras traduções literais.

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