quarta-feira, 30 de julho de 2008

Observação - Esse abuso de confiança seria de facto uma acção má, que entretanto não daria resultado, pois não se pode arrancar um segredo do Espírito que o deseja guardar. A menos que, dominado por um sentimento de justiça, confessasse o que em outras circunstâncias calaria. Uma pessoa quis saber por esse meio se um de seus parentes a beneficiava em seu testamento. O Espírito respondeu: "Sim, minha querida sobrinha, e logo terás a prova." Realmente era assim, mas poucos dias depois o parente desfez o seu testamento e teve a malícia de dar ciência disso à sobrinha, sem entretanto saber que havia sido evocado. Um sentimento instintivo o levou sem dúvida, a executar a resolução que o seu Espírito tomara após a pergunta que lhe fora feita. Há covardia em se perguntar ao Espírito de um morto ou de um vivo o que não se ousaria perguntar à sua pessoa, e essa covardia não tem sequer a compensação do resultado que se espera.
58. Pode-se evocar um Espírito cujo corpo ainda se encontra no seio materno?
— Não. Sabes muito bem que nessa fase o Espírito se acha em completa perturbação.
Observação - A encarnação somente se efectiva no momento em que a criança respira. Mas desde a concepção o Espírito designado é envolvido por uma perturbação que aumenta com a aproximação do nascimento e lhe tira a consciência de si mesmo. Por conseguinte ele não pode responder. (Ver O Livro dos Espíritos: Retorno à Vida Corporal e União da Alma com o Corpo, nº 344).
59. Um Espírito mistificador poderia responder pelo de uma pessoa viva que se evocasse?
— Não há dúvida e isso acontece com muita frequência, sobretudo quando a intenção do evocador não é pura. Aliás, a evocação de pessoas vivas só tem interesse como estudo psicológico. Convém não fazê-la quando não se visa a um resultado instrutivo.
Observação - Se a evocação dos Espíritos errantes nem sempre os atinge, para usarmos a sua própria expressão, isso ainda é mais frequente no tocante aos encarnados. É então, sobretudo, que os Espíritos mistificadores tomam o seu lugar.
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60. É inconveniente evocar uma pessoa viva?
— Nem sempre é livre de perigos. Depende da condição da pessoa. Se ela estiver doente podemos aumentar os seus sofrimentos.
61. Quando a evocação de um vivo pode ser mais inconveniente?
— Não devem ser evocadas as crianças de tenra idade, as pessoas gravemente doentes, os velhos enfermos. Numa palavra: ela pode ter inconvenientes sempre que o corpo esteja muito debilitado.
Observação - A brusca suspensão das faculdades intelectuais durante o estado de vigília, também poderia oferecer perigo, se a pessoa, no momento, necessitasse de toda a sua agilidade mental.
62. Durante a evocação de uma pessoa viva seu corpo se cansa por causa do trabalho do Espírito, embora ausente?
Uma pessoa evocada, afirmando que o seu corpo se cansava, respondeu assim a essa pergunta:
— Meu Espírito é como um balão amarrado a um poste; meu corpo é o poste que estremece com as sacudidelas do balão.
63. Desde que a evocação dos vivos pode ter inconvenientes, quando feita sem precaução, não há perigo também ao se evocar um Espírito que não se sabe se está encarnado e poderia não se encontrar em condições favoráveis?
— Não, as circunstâncias não são as mesmas. Ele só atenderá se estiver em condições. Aliás, eu já não disse que antes de fazer a evocação deve-se perguntar se ela é possível?
64. Quando sentimos, nos momentos mais impróprios, um sono irresistível, será por que estamos sendo evocados em algum lugar?
— Isso pode ser, sem dúvida, mas o mais frequente é tratar-se de uma exigência física, seja pela necessidade de repouso do corpo ou porque o Espírito precisa da sua liberdade.
Observação - Uma senhora nossa conhecida, médium, teve um dia a ideia de evocar o Espírito do seu neto, que dormia no mesmo quarto. Constatou-se a identidade pela linguagem, pelas expressões familiares da criança e pelo relato bastante exacto de muitas coisas que lhe haviam acontecido no internato. Mas uma circunstância ainda a confirmou. Súbito a mão da médium parou em meio de uma frase, sem que fosse possível escrever mais. Nesse momento, meio acordado, o menino agitou-se no leito. Logo mais, voltando a dormir, a mão se pôs a escrever, continuando a conversa interrompida. A evocação de vivos, feita nas condições convenientes, prova de maneira incontestável a actividade distinta do Espírito e do corpo, e por conseguinte a existência de um princípio inteligente independente da matéria. (Ver na Revista Espírita de 1860, páginas 11 e 85 da "Edicel", vários exemplos notáveis de evocação de pessoas vivas.).(25)
285. Telegrafia humana.
65. Duas pessoas, evocando-se reciprocamente, poderiam transmitir-se os seus pensamentos e corresponder-se?
— Sim, e essa telegrafia humana será um dia um meio universal de correspondência.
66. Por que não seria praticada desde agora?
— Já é por algumas pessoas, mas não por todos. É necessário que os homens se depurem para que o seu Espírito se liberte da matéria, eis ainda uma razão para que se faça a evocação em nome de Deus. Até lá, ela estará circunscrita às almas de eleição e desmaterializadas, que raramente se encontram no estado actual dos habitantes da Terra.(26)

(25) Na colecção da Revista Espírita, publicada em português pela Edicel, encontra-se toda a documentação das experiências de evocações de vivos feitas por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Uma investigação científica rigorosa, que nada fica a dever às pesquisas actuais. (N. do T.)
(26) As modernas experiências parapsicológicas de telepatia à distância confirmam essa previsão. A tese de Rhine (Duke University) de que o pensamento não é físico, apoia a teoria espírita. E esta teoria, como se vê, considerando a telepatia como forma de comunicação mediúnica, só plenamente acessível aos Espíritos purificados, explica a razão das dificuldades actuais para obter-se segurança e regularidade nas comunicações telepáticas. (N. do T.)


Referência: O livro dos médiuns

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