quarta-feira, 30 de julho de 2008

"mesa girante", que tomou conta dos salões festivos da época. A mesa girante era uma mesinha redonda, de três pés, em torno da qual se ajuntavam as pessoas para provocar manifestações de forças sobrenaturais. As mãos dos presentes eram colocadas sobre a superfície da mesa que, através de um fenómeno de efeitos físicos, dava saltos sobre seus pés, girando e dando pancadas. Por meio de um código alfabético semelhante ao usado pelas irmãs Fox, na cidade de Hydesville, era possível conversar com o "invisível". A sociedade francesa divertia-se em perguntar amenidades à mesa. Houve uma espécie de febre em torno dessa brincadeira. Uma senhora, chamada Emília de Girardim, desenvolveu uma sofisticada mesa que girava livre e facilmente em torno de um eixo à maneira de roleta. Na superfície e em circunferência eram colocadas as letras do alfabeto, os números e as palavras sim e não. No centro, um ponteiro metálico ou agulha fixa. O médium punha os dedos na borda da mesa que girava e parava sob a agulha, na letra desejada pelas forças invisíveis para fazerem seus ditados. Com isso, tornou-se possível conseguir, regularmente, mensagens vindas do Além. As mesas girantes eram a grande sensação dos salões da Europa e América. Por meio delas as pessoas passaram a ter contacto com o mundo invisível, realizando sessões de comunicação espiritual, onde reinava a frivolidade e a brincadeira.

c) Tiptologia

Os fenómenos de ruídos provocados por Espíritos em paredes, mesas ou outros objectos, e que serviram de meios de comunicação com o invisível, foram mais tarde classificados pelo nome de Tiptologia. Foi desta forma que iniciaram as primeiras comunicações, que depois foram aperfeiçoadas, passando por várias fases.

3.2 - ALLAN KARDEC

Allan Kardec foi um professor francês que se interessou pelo estudo das manifestações espirituais e foi atraído pela novidade das mesas girantes. Em 1854, ele ouviu falar pela primeira vez do fenómeno, através de um amigo seu chamado Fortier. No ano seguinte, se interessou mais pelo assunto, pois soube tratar-se de intervenção dos Espíritos, informação dada pelo Sr. Carlotti, seu amigo há 25 anos. Depois de algum tempo, em Maio de 1855, ele foi convidado para participar de uma dessas reuniões, pelo Sr. Pâtier, um homem muito sério e instruído. O professor era um grande estudioso do magnetismo e aceitou participar, pensando tratar-se de fenómenos ligados ao assunto. Após algumas sessões, começou a questionar para descobrir uma resposta lógica que pudesse explicar o fato de objetos inertes emitirem mensagens inteligentes. Admirava-se com as manifestações, pois parecia-lhe que por detrás delas havia uma causa inteligente responsável pelos movimentos. Resolveu investigar, pois desconfiou que atrás daqueles fenómenos estava como que a revelação de uma nova lei. As "forças invisíveis" que se manifestavam nas sessões de mesas falantes diziam que eram as almas de homens que já haviam vivido na Terra. O Codificador intrigava-se mais e mais. Num desses trabalhos, uma mensagem foi destinada especificamente a ele. Um Espírito chamado Verdade disse-lhe que tinha uma importante missão a desenvolver. Daria vida a uma nova doutrina filosófica, científica e religiosa. Kardec afirmou que não se achava um homem digno de uma tarefa de tal envergadura, mas que sendo o escolhido, tudo faria para desempenhar com sucesso as obrigações de que fora incumbido. Com suas pesquisas, organizou e codificou a Doutrina Espírita. Seu verdadeiro nome era Hippolyte Léon Denizard Rivail. Usava o pseudónimo de Allan Kardec, para evitar que sua personalidade ficasse em evidência, pois era um educador conhecido e tinha muitas obras publicadas nesse campo. O Codificador nasceu no dia 3 de Outubro de 1804, na cidade de Lyon, na França, e desencarnou em 31 de Março de 1869, aos 65 anos de idade. Era casado com a professora Amélie Gabrielle Boudet. Falava quatro idiomas, estudava astronomia e os fenómenos ligados ao magnetismo. Foi discípulo de Pestalozzi, considerado o pai da pedagogia moderna.

3.3 - A CODIFICAÇÃO ESPÍRITA

a) O início

O desenvolvimento da Codificação Espírita basicamente teve início na residência da família Baudin, no ano de 1855. Na casa havia duas moças que eram médiuns. Tratava-se de Julie e Caroline Baudin, de 14 e 16 anos, respectivamente. Através da "cesta-pião", um mecanismo parecido com as mesas girantes, Kardec fazia perguntas aos Espíritos desencarnados, que as respondiam por meio da escrita mediúnica. À medida que as perguntas do professor iam sendo respondidas, ele percebia que ali se desenhava o corpo de uma doutrina e se preparou para publicar o que mais tarde se transformou na primeira obra da Codificação Espírita. Todo o trabalho da revelação era revisado várias vezes, de modo a se evitar erros ou interpretações dúbias. Na fase de revisão, o professor contou com a preciosa ajuda de outra médium, que era sonâmbula, a srta. Japhet. Depois dela, o Codificador ainda submeteu as questões a outros médiuns. Assim, o trabalho contou com ajuda de pelo menos dez médiuns, nesta primeira fase. A forma pela qual os Espíritos se comunicavam no princípio era através da cesta-pião que tinha um lápis em seu centro. As mãos das médiuns eram colocadas nas bordas, de forma que os movimentos involuntários, provocados pelos Espíritos, produzissem a escrita. Com o tempo, a cesta foi substituída pelas mãos dos médiuns, dando origem à conhecida psicografia. Das consultas feitas aos Espíritos, nasceu "O Livro dos Espíritos", lançado em 18 de Abril de 1857, descortinando para o mundo todo um horizonte de possibilidades no campo do conhecimento. A partir daí, Allan Kardec dedicou-se intensivamente ao trabalho de expansão e divulgação da Boa Nova. Viajou 693 léguas, visitou vinte cidades e assistiu mais de 50 reuniões doutrinárias de Espiritismo. Em Janeiro de 1858, o Codificador abraçou uma nova actividade. Inaugurou a Revista Espírita, um mensário cujo objectivo era o de informar os adeptos do Espiritismo sobre o crescimento do movimento e debater questões ligadas à prática doutrinária. Assim, teve início a imprensa espírita. A Revista foi editada por 12 anos. Em Abril de 1858, fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, entidade que se destinava a estudar, entender e explicar a fenomenologia espírita. Foi a primeira sociedade espírita a constituir-se regular e legalmente, tendo exercido grande influência moral entre os outros grupos, por ter sido a sociedade iniciadora e central.

b) Obras da Codificação

Para a orientação dos seguidores do Espiritismo, Allan Kardec editou cinco livros básicos, conhecidos como Pentateuco Kardequiano. São eles: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Génese. Neles, reuniu os ensinamentos da Espiritualidade superior, analisando-os e codificando-os, de forma a ficarem claros e interessantes.

O Livro dos Espíritos (1857): É uma obra de carácter filosófico, que procura explicar de forma racional o porquê da vida. Divide-se em quatro tópicos: "As causas primárias"; "Mundo espírita ou dos Espíritos"; "As leis morais"; e "Esperanças e consolações". É tido como a espinha dorsal do Espiritismo, pois todas as outras obras partem de seus princípios.

O Livro dos Médiuns (1861): Orienta a conduta prática das pessoas que exercem a função de intermediar o mundo espiritual com o material. Mostra aos médiuns os inconvenientes da mediunidade, suas virtudes e os perigos provindos de uma faculdade descontrolada. Ensina a forma de se obter contactos proveitosos e edificantes junto à Espiritualidade. A obra demonstra ainda as consequências morais e filosóficas decorrentes das relações entre o invisível e o visível.
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864): Trata-se da parte moral e religiosa da Doutrina Espírita. Ensina a teoria e a prática do Cristianismo, através de comentários sobre as principais passagens da vida de Jesus, feitos por Allan Kardec e pelos Espíritos superiores. Mostra que as parábolas existentes no Evangelho, que aos olhos humanos parecem fantasias, na verdade exprimem o mais profundo código de conduta moral de que se tem notícia.

O Céu e o Inferno (1865): Neste livro, através da evocação dos Espíritos, Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado "céu", do temido "inferno", como também do chamado "purgatório". Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no Universo evolui e que as teorias sobre o sofrimento no fogo do inferno nada mais são do que uma ilusão. Comunicações de Espíritos desencarnados, de cultura e hábitos diversos, são analisadas e comentadas pelo Codificador, mostrando a situação de felicidade, de arrependimento ou sofrimento dos que habitam o mundo espiritual.

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