quarta-feira, 30 de julho de 2008

292. Perguntas sobre a situação dos Espíritos.

21. Podemos solicitar esclarecimentos aos Espíritos sobre a sua situação no mundo espiritual?
— Sim, e eles respondem de boa vontade quando o pedido é ditado pela simpatia e pelo desejo de ser útil, e não pela curiosidade.


22. Os Espíritos podem explicar a natureza dos seus sofrimentos ou da sua felicidade?
— Perfeitamente, e essas revelações representam para vós um grande ensinamento, pois vos iniciam no conhecimento da natureza das penas e recompensas futuras. Ao destruir as ideias falsas sobre o assunto, elas tendem a vos reavivar a fé e a confiança na bondade de Deus. Os Espíritos bons se sentem felizes ao vos relatar a felicidade dos eleitos. Os maus podem ser constrangidos a descrever os seus sofrimentos, para provocar neles mesmos o arrependimento. Às vezes encontram nisso uma espécie de alívio: é o infeliz que se lamenta esperando a compaixão.
Não vos esqueçais de que o fim essencial e exclusivo do Espiritismo é a vossa melhora. É para atingi-lo que os Espíritos têm a permissão de vos iniciar na vida futura, oferecendo-vos exemplos que podereis aproveitar. Quanto mais vos identificardes com o mundo que vos espera menos sofrereis com esse em que estais. Esse é, em suma, o objectivo actual da revelação.(14)


23. Evocando-se uma pessoa cujo destino é ignorado, pode-se saber dela mesma se ainda está viva?
— Sim, se a incerteza quanto à sua morte não for uma necessidade ou uma prova para os que têm interesse em sabê-lo.
— Se tiver morrido poderá relatar as circunstâncias da sua morte, de maneira a se poder verificá-la?
— Se der alguma importância a isso, poderá fazê-lo. Se não, pouco se incomodará.
Observação - A experiência prova que, nesses casos, o Espírito não é absolutamente tocado pelo nosso interesse quanto às circunstâncias de sua morte. Se quiser revelá-las o fará por si mesmo, seja por via mediúnica ou por meio de visões e aparições, podendo dar então as indicações mais precisas. Caso contrário, um Espírito mistificador pode perfeitamente tomar-lhe o lugar e divertir-se indicando pesquisas inúteis.


Acontece sempre que o desaparecimento de uma pessoa, cuja morte não pode ser oficialmente constatada, cria embaraços aos negócios de família. Somente em casos raros e excepcionais temos visto os Espíritos indicarem as pistas verdadeiras, quando interrogados. Se quisessem fazê-lo não há dúvida que o poderiam, mas quase sempre isso não lhes é permitido, se esses embaraços constituem provas para aqueles que desejam afastá-los.
É, pois, enganar-se com uma esperança quimérica tentar por esse meio a obtenção de heranças, das quais a única coisa positiva é o dinheiro que se gasta com esse fim. Não faltam Espíritos dispostos a alimentar essas esperanças, sem nenhum escrúpulo de levar os interessados a pesquisas das quais serão felizes se saírem apenas com um pouco de ridículo.


293. Perguntas sobre a saúde.


24. Os Espíritos podem aconselhar sobre a saúde?
— A saúde é condição necessária para o trabalho que devemos executar na Terra, e por isso os Espíritos se ocupam dela de boa vontade. Mas como há ignorantes e sábios entre eles, nesse caso como em outros não convém dirigir-se ao primeiro que se manifeste.


25. Dirigindo-nos ao Espírito de uma celebridade médica seria mais certo obtermos um bom conselho?
— As celebridades médicas não são infalíveis e têm muitas vezes opiniões sistemáticas, que nem sempre são justas e das quais a morte não as livra de repente. A Ciência terrena é bem pouco ao pé da Ciência celeste. Somente os Espíritos superiores possuem esta última. Sem terem nomes conhecidos de vós, podem eles saber muito mais, sobre todas as coisas, do que os vossos sábios. A Ciência não é suficiente para tornar os Espíritos superiores e ficaríeis muito espantados com o lugar que certos sábios ocupam entre nós. O Espírito de um sábio pode, pois, não saber nada mais do que quando estava na Terra, se não progrediu como Espírito.


26. O sábio, como Espírito reconhece os seus erros científicos?
— Se atingiu um grau bastante elevado para se desembaraçar da sua vaidade e compreender que o seu desenvolvimento não é completo, os reconhece e os confessa sem se envergonhar. Mas se não estiver suficientemente desmaterializado pode conservar alguns dos preconceitos de que se achava imbuído na Terra.


(14) O grifo é nosso. Algumas traduções não trazem essa frase final. Para algumas pessoas parece absurdo que o fim actual da revelação seja apenas a nossa melhora pessoal. Mas basta reflectir que sem melhorar o homem não se pode melhorar o mundo, para se compreender que a frase está certa. A finalidade do Espiritismo é a nossa transformação moral. (N. do T.)

27. Um médico, evocando os seus clientes mortos, poderia deles obter esclarecimentos sobre a causa de suas mortes, as faltas que poderia ter cometido no seu tratamento e aumentar assim a sua experiência?
— Pode. E isso lhe seria muito útil, sobretudo se ele se fizesse assistir por Espíritos esclarecidos que supririam as faltas de conhecimento de alguns doentes. Mas para isso seria necessário fazer esses estudos de maneira séria, assídua, com fim humanitário e não como meio de adquirir saber e fortuna sem trabalho.


294. Perguntas sobre invenções e descobertas.


28. Os Espíritos podem dar orientação, em pesquisas científicas e descobertas?
— A Ciência é obra do génio; só deve ser adquirida pelo trabalho, porque é somente pelo trabalho que o homem avança no seu caminho. Que mérito teria se lhe bastasse interrogar os Espíritos para tudo saber? Qualquer imbecil poderia tornar-se sábio por esse preço. Acontece o mesmo no tocante às invenções e às descobertas industriais. Mas há ainda uma consideração: é que cada coisa deve vir no seu tempo e quando as ideias gerais estão maduras para a receber. Se o homem tivesse esse poder subverteria a ordem das coisas, fazendo os frutos nascerem antes do tempo.
Deus disse ao homem: ganharás o pão com o suor do teu rosto, admirável figura que retrata a sua condição neste mundo. Ele tem de progredir em tudo pelo esforço no trabalho. Se as coisas lhe fossem dadas inteiramente feitas, para que lhe serviria a sua inteligência? Ele seria como um escolar cujas tarefas fossem feitas por outro.


29. O sábio e o inventor nunca são assistidos pelos Espíritos nas suas pesquisas?
— Oh, isso é bem diferente. Quando chega o tempo de uma descoberta os Espíritos incumbidos de lhe dirigir a marcha procuram o homem capaz de a levar a bom termo. Inspiram-lhe as ideias necessárias, com o cuidado de lhe deixar todo o mérito, porque essas ideias ele terá de elaborar e pôr em execução. Assim acontece com todos os grandes trabalhos da inteligência humana. Os Espíritos respeitam cada homem na sua esfera própria: aquele que só é capaz de cavar a terra não será feito depositário dos segredos de Deus, mas saberão tirar da obscuridade o homem capaz de realizar seus desígnios. Não vos deixeis pois arrastar, pela curiosidade ou a ambição, por um caminho que não corresponda ao objectivo do Espiritismo e que resultaria, para vós nas mais ridículas mistificações.


Observação - O conhecimento mais preciso do Espiritismo acalmou a febre das descobertas que, no princípio, muitos se vangloriavam de fazer por seu intermédio. Chegaram mesmo a pedir aos Espíritos receitas para tingir e fazer nascer cabelos, para curar calos, etc. Vimos muitas pessoas que acreditavam já ter feito fortuna e só colheram resultados mais ou menos ridículos. Acontece o mesmo quando se deseja penetrar o mistério da origem das coisas com a ajuda dos Espíritos. Certos Espíritos têm os seus sistemas a respeito, que não valem mais do que os dos homens e que convém receber com a maior reserva.


295. Perguntas sobre tesouros ocultos.

30. Os Espíritos podem indicar-nos tesouros ocultos?
— Os Espíritos superiores não se ocupam dessas coisas, mas os brincalhões muitas vezes indicam tesouros inexistentes ou podem ainda indicar um lugar enquanto o tesouro se encontra em outro. E isso tem a sua utilidade, por mostrar que a verdadeira fortuna está no trabalho. Se a Providência destina riquezas ocultas a alguém, essa pessoa as encontrará naturalmente e não de outra maneira.


31. Que pensar da crença nos Espíritos guardiães de tesouros ocultos?
— Os Espíritos ainda não desmaterializados se apegam às coisas. Os avarentos que ocultaram seus tesouros podem ainda vigiá-los e guardá-los depois da morte. A perplexidade em que caem ao vê-los roubados é um dos seus castigos, até que compreendam a inutilidade dos mesmos para eles. Mas existem também os Espíritos da terra, encarregados de lhe dirigir as transformações interiores, e que, por alegoria, foram transformados em guardas das riquezas naturais.(15)
Observação - A questão dos tesouros ocultos é do mesmo género da questão das heranças ignoradas. Bem louco seria aquele que contasse com as pretensas revelações que lhe podem fazer os malandros do mundo invisível. Já dissemos que quando os Espíritos querem ou podem fazer dessas revelações as fazem espontaneamente, não precisando de médiuns para isso. Eis aqui um exemplo.


Uma senhora perdera o marido após trinta anos de casamento e estava ameaçada de ser expulsa de sua residência, sem nenhum recurso, pelos enteados, para os quais havia sido uma segunda mãe. Seu desespero chegara ao auge e uma noite o marido lhe apareceu e a convidou a segui-lo até o seu escritório. Lá lhe mostrou a sua escrivaninha, que ainda estava selada, e provocando um efeito de segunda vista lhe fez ver no seu interior. Indicou-lhe uma gaveta secreta, que ela não conhecia, explicando-lhe o seu mecanismo e acrescentou: "Eu previ o que está acontecendo e quis assegurar a tua sorte; nessa gaveta estão as minhas últimas disposições; deixei-te o usufruto desta casa e uma renda de..." Depois desapareceu. No dia de tirar os selos judiciais ninguém pode abrir a gaveta. A senhora então contou o que lhe havia acontecido. Abriu a gaveta, seguindo as instruções do marido, e lá encontraram o testamento conforme o que lhe havia sido anunciado.


296. Perguntas sobre outros mundos.


32. Qual o grau de confiança que podemos ter nas descrições dos Espíritos sobre os outros mundos?
— Isso depende do grau de adiantamento real dos Espíritos que dão essas descrições. Porque compreendeis que os Espíritos vulgares são tão incapazes de vos informar a respeito como um ignorante o seria, entre vós, no tocante aos países da Terra. Formulais muitas vezes, sobre esses mundos, questões científicas que esses Espíritos não podem resolver. Se são de boa fé, falam a respeito segundo as suas ideias pessoais. Se são levianos, divertem-se a vos dar descrições bizarras e fantásticas, tanto mais que esses Espíritos, tão imaginosos na erraticidade como na Terra, tiram da própria imaginação o relato de muitas coisas que nada têm de real. Entretanto, não acrediteis na impossibilidade absoluta de obter alguns esclarecimentos sobre esses mundos. Os Espíritos bons gostam mesmo de descrever aqueles que habitam, a fim de oferecer ensinamentos para vos melhorar e vos colocar no caminho que vos pode conduzir a eles. É uma maneira de concentrar as vossas ideias sobre o futuro e não vos deixar no vácuo.(16)
— Como podemos controlar a exactidão dessas descrições?
— O melhor controle é a concordância que possa haver entre elas. Mas lembrai-vos que elas têm por fim o vosso melhoramento moral. Por conseguinte, é sobre o estado moral dos habitantes que podeis ser melhor informados, e não sobre o estado físico ou geológico desses globos. Com os vossos conhecimentos actuais não poderíeis mesmo compreendê-lo. Esse estudo de nada serviria ao vosso progresso neste mundo e tereis toda a possibilidade de fazê-lo quando lá estiverdes.(17)
Observação - As perguntas sobre a constituição física e as condições astronómicas dos mundos entram no campo das pesquisas científicas, cujos trabalhos os Espíritos não podem poupar-nos. Do contrário, um astrónomo acharia muito cómodo mandar os Espíritos fazerem os seus cálculos, que, sem dúvida, depois não confessaria. Se os Espíritos pudessem, pela revelação, poupar o trabalho de uma descoberta, provavelmente o fariam em favor de um sábio bastante modesto para abertamente reconhecer a fonte, e não em proveito dos orgulhosos que os renegam e aos quais, pelo contrário, muitas vezes reservam as decepções do amor-próprio.(18)


(15) Os Espíritos da terra são Espíritos incumbidos de agir nesse sector do nosso globo, como os há dos demais elementos. O Espiritismo não os considera seres especiais, mas pertencentes à linha da Humanidade. Ver a respeito O Livro dos Espíritos. (N. do T.)


(16) É o mesmo problema das descrições da vida espiritual: o objectivo é oferecer aos homens uma informação menos vaga que a das teologias, preparando-os melhor para o futuro a que ninguém escapa. (N. do T.)


(17) Aplica-se aqui o critério do "consenso universal", que encontramos em O Livro dos Espíritos. A multiplicidade de testemunhos semelhantes, estranhos uns aos outros, tem uma validade provável. (N. do T.)

Nenhum comentário: