quarta-feira, 30 de julho de 2008

o espiritismo é uma religião?


O ESPIRITISMO E' UMA RELIGIAO?


Este é o tema de um dos mais belos textos deixados por Allan Kardec no século passado. O codificador prevendo os rumos que o espiritismo tenderia no futuro já se preocupou em avançar no assunto Religião e Espiritismo.
Esse trabalho foi proferido por Kardec em discurso de abertura da Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, da Sociedade de Paris no dia 1.de Novembro de 1868. E' importante observar o forte enfoque que ele faz da expressão "comunhão de pensamentos", utilizando-a como ponto central de seu discurso.
O homem em sua saga evolutiva necessita viver em sociedade e, portanto, todos nos dependemos de alguma forma uns dos outros. Kardec fala do poder da união de pensamentos capaz de gerar reacções extraordinárias de efeitos morais e físicos. Ao imaginarmos o Espírito fora do corpo material, concluímos que o pensamento é sua característica inata e essencial, marcando a individualidade do ser humano. O Espírito não poderia existir sem o pensamento. E praticamente impossível ao homem viver em total isolamento e ele possui no seu intimo a necessidade da convivência em comunidade.
O espiritismo vem nos esclarecer a verdadeira importância da comunhão de pensamentos. Ao isolarmos e emitir palavras pelo pensamento estamos também promovendo uma reunião com outros pensamentos em comum. Engana-se assim, aquele que acredita que só sabe e consegue viver isolado. Provavelmente, ele deve possuir maior afinidade com outras pessoas que não estão encarnadas ao seu redor.
Da comunhão de pensamentos surgem as mais diversas sensações (efeitos) que podemos sentir em nossa caminhada eterna evolutiva. Unidos a uma comunidade de pensamentos benéficos e positivos receberemos fluidos agradáveis e gratificantes e, inversamente, obteremos a desarmonia e suas
consequências negativas. Kardec ressalta que as Religiões são formadas com base na comunhão de pensamentos, mas cada uma segue os requisitos que lhe convém para manter sua estrutura. Muitas persistem por longo tempo, outras surgem e extinguem-se rapidamente. Como facto inevitável, não se pode parar a
evolução do Espírito, ou seja, a evolução do pensamento. Com o tempo tudo passa por transformação para melhor, não havendo retrocesso, caso contrario, não haveria evolução no sentido amplo da palavra. Sempre nesse caminho, as transformações são seguidas de fases de adaptação. As religiões como instituições organizadas, talvez sejam, as mais sujeitas as adaptações
evolutivas em virtude do forte exercício da comunhão de pensamentos da comunidade a que estão sujeitas. As transformações são mais rápidas quanto mais evoluída for a comunidade. Dado a isso, surgiu a Doutrina Espírita,
como fonte renovadora da união de pensamentos na Terra para o bem comum. Vamos a um trecho do discurso: "...Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; é ai, com efeito, que esta deve e pode exercer toda a sua forca, porque o objectivo deve ser o desprendimento do pensamento das garras da matéria.
Infelizmente, em sua maioria, afastam-se desse princípio, a medida que fazem da religião uma questão de forma. Disso resulta que cada um, fazendo consistir seu dever na realização da forma, julga-se quite com Deus e com os homens, quando haja praticado a forma. Resulta ainda que cada um vai aos
lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, de seu próprio interesse e o mais das vezes sem nenhum sentimento de fraternidade em relação aos outros assistentes; fica isolado no meio da multidão, e não pensa no céu senão para si mesmo...".
..."Se as assembleias religiosas - falamos em geral, sem fazer alusão a culto algum - muitas vezes se tem desviado do alvo primitivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamento; se o ensino que nelas é dado não tem seguido sempre o movimento progressivo da Humanidade, é porque os homens não realizam todos os progressos a um tempo; o que eles não fazem em um
período, fazem em outro; `a medida que se esclarecem, eles vêem as lacunas que existem em suas instituições e as preenchem; compreendem que o que era bom em uma época, de acordo com o grau de civilização, se torna insuficiente em um estado mais adiantado e restabelecem o nível. Nos sabemos que o espiritismo, é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; ele marca uma era de renovação. Saibamos pois, aguardar o porvir, e
não pecamos a uma época mais do que ela pode dar. Como as plantas as ideias precisam amadurecer para que se lhes possam colher os frutos. Saibamos, alem disso, fazer as necessárias concessões as épocas de transição, porque nada na Natureza se opera de maneira brusca e instantânea..."
A revelação da existência do plano espiritual e da sua comunicação com o nosso plano terreno, abriu definitivamente, uma nova realidade filosófica e religiosa no planeta. Com base na ciência espírita, capaz de trazer um novo horizonte na relação da vida, conceitos e dogmas erróneos, muitos deles devido á interpretações e traduções incoerentes e egoístas de Livros
Sagrados, foram desmantelados e vão ficar apenas como parte da história da humanidade.
O aspecto científico do espiritismo é primordial e essencial para o conhecimento da vida e adiantamento da humanidade. Com ele, a fé cega é substituída pela fé inabalável, sólida, com base na razão e com isso há ampliação da Verdade para o homem, pois o pensamento tem o poder de ir muito alem do que a ciência pode comprovar num determinado tempo. No caminhar da própria ciência a comunhão de pensamentos é também essencial.
As reuniões científicas, as grandes discussões, etc. fazem parte dos conhecimentos disponíveis ao homem, tanto do aspecto material como no aspecto moral, ou seja, no comportamento humano no desenvolvimento da vida.
Kardec prossegue: "... Se assim é, dirão, o Espiritismo então é uma religião? - Perfeitamente! Sem duvida; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nos ufamos disso, porque ele é a doutrina que funda os laços de fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as leis da própria Natureza.
Porque então declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Por isso que só temos uma palavra para exprimir duas ideias diferentes e que na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto: revela exclusivamente uma ideia de forma, e o Espiritismo não é isso. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o publico só veria nele uma nova edição, uma variante, se assim nos quisermos expressar, dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimónias e de privilégios; o publico não o separaria das
Ideias de misticismo e dos abusos, contra os quais sua opinião tem-se elevado tantas vezes. Não possuindo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, o Espiritismo não poderia nem deveria ornar-se com um titulo sobre
o valor do qual inevitavelmente se estabeleceria a incompreensão; eis porque ele se diz simplesmente: doutrina filosófica e moral..."

No livro "O que é o Espiritismo" Kardec define-o assim: "O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência pratica, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que
decorrem dessas relações".
É interessante notarmos que tal definição é pormenorizada nesse texto, ampliando o seu entendimento.

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